Inovação e o Flerte Com Crime


Por Rizzo Miranda

Elizabeth Holmes é a síntese das várias faces que já são atribuídas há muito tempo ao Vale do Silício. Notoriamente um lugar interessante e provocador, por outro lado, o “Olimpo” da inovação produziu ideias aos montes, negócios de menos, bolhas que se perdem no tempo, gênios que rapidamente viraram ídolos de pés de barro e tendências que, com algum tempo, se mostraram até, veja bem, golpes no limite da psicopatia. Caso de Holmes, explorado no documentário “A Inventora — À Procura de Sangue no Vale do Silício” (HBO Max). 

O resumo é, de forma bem simples: uma ideia genial que mudaria a vida das pessoas. Assim são, afinal, as ideias inovadoras. No lugar de frascos e frascos de sangue, apenas uma gota, guardada como uma joia dentro de um nanotainer de apenas 1,29 centímetro. O sangue entrava numa máquina chamada Edison. Uma black box linda. Mas ninguém sabia exatamente como tudo se processava ali dentro. Mas a Theranos, a unicórnio de Holmes, garantia que era um método que podia identificar doenças como os exames comuns conhecidos, em menos tempo e mais barato. Tudo que inovação precisa ser: uma solução que impacta bilhões de pessoas com preço acessível e forçando setores inteiros a buscar reinvenção. 

Era fraude, soubemos. Nada disso acontecia. Para saber detalhes veja o documentário para entender o porquê uma ideia vai de capas da Time, como a Theranos avaliada em 9 bilhões de dólares, seduz de Colin Powel a Henry Kissinger e acaba na cadeia. 

Eu estive 3 vezes em viagem de estudos no Vale do Silício. Todas foram incríveis. E na primeira vez eu fui uma das enganadas (até então em pleno sucesso) pelo nanotainer e pela máquina Edison da Holmes. Fiz algumas dúzias de palestras sobre minhas experiências no Vale do Silício e incensei aquela ideia incrível. Não estava em má companhia, como viram acima. Pelo menos rs. 

Holmes tá presa, condenada a mais de 11 anos de prisão. Edison era uma fraude. Eu precisei “atualizar” o status daquela situação para quem esteve comigo nas palestras onde a Theranos foi meu destaque. É do jogo. A gente sabe que o mindset do erro em busca do acerto é milenar. Só que o Vale do Silício anda levando isso (e não apenas a Holmes) a um lugar esquisito de compreender. Condutas de negócios pouco claras, quando a gente precisa demais dar passos resolutivos sobre os problemas que temos em saúde, clima, economia etc e etc. Mas o preço da genialidade precisa ter o mesmo peso do bom senso. Não se pode frear a criatividade. Mas não se pode seduzir pelo poder que ela exala. Fica o teaser para a onda de IA. 

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